Livros espanhóis: obras de autores e autoras que vale a pena conhecer
Hoje é o Dia Mundial do Livro e decidi aproveitar a data comemorativa para finalmente escrever sobre livros de autores e autoras da Espanha. Responsável por um dos maiores clássicos mundiais – Dom Quixote -, a literatura espanhola ofereceu grandes obras ao longo do tempo e também agora, por isso neste post meu objetivo é apresentar alguns livros espanhóis mais contemporâneos e não tão famosos no Brasil para que vocês possam conhecer as novidades.
A lista é bem pessoal, ou seja, o único critério para aparecer nela é eu ter lido e gostado, além das dicas dadas por duas amigas. Nesse post você vai encontrar uma HQ, ficção e não-ficção, assim dá para atender diferentes gostos.
Antes de falar deles, deixo algumas dicas: um ótimo lugar para descobrir novos escritores é a Revista Eñe, uma publicação de contos curtos e poesia que sempre tem coisas ótimas e de onde eu tiro referências para minhas leituras futuras.
Se você mora em Madrid, há a possibilidade de ler os livros que sugiro de forma online e gratuita através das Bibliotecas Públicas. Se você tem a carteirinha, é só acessar o site e ver se eles estão disponíveis em formato digital. Se você não tiver, nesse momento de confinamento é possível fazer a carteirinha online completando este formulário.
Mas se você, como eu, prefere a versão impressa, minha dica é: compre esses livros online com a iniciativa Apoya a tu librería e passe para buscá-los na sua livraria favorita quando tudo isso acabar. Assim você ajuda esses pequenos negócios a se manterem nesse momento tão delicado.
Também recomendo que você passa no blog Viva Barcelona para ver como esse dia é celebrado na Catalunha, uma festa linda e cheia de livros e flores!
Manuel Vilas – Ordesa
O último livro que li e recomendo muito. Ganhador de diversos prêmios nem 2018, esse livro é uma espécie de autobiografia focada na relação entre pais e filhos, com muitos momentos tristes e um jeito poético de narrar a beleza do dia a dia. Para quem, como eu, já perdeu um dos pais, essa obra traz muitas perguntas, mas acho que qualquer pessoa se sentirá identificada com as angústias do narrador.
Juana Salabert – Arde lo que será
Apesar de ter nascido em Paris, Juana é filha de pai espanhol, o escritor Miguel Salabert, que se exilou no país vizinho durante a ditadura de Franco. Li esse livro há alguns anos e lembro que me impactou bastante porque a personagem principal passava um tempo em uma casa ocupada (as famosas “casas okupa”). O livro fala de um reencontro que acontece anos mais tarde e que faz com que cada um se pergunte sobre como nossas vidas teriam sido se tivéssemos tomado outros caminhos e escolhas.
Fernando Iwasaki – Libro del Mal Amor
Ok, vou abrir outra exceção, porque ele é peruano, embora se sinta um pouco espanhol por morar há 30 anos em Sevilha. Nesse livro, o narrador relembra cada uma das suas histórias de amor, uma por capítulo – que tem o nome da mulher amada. Adorei cada uma das histórias, mas o que encanta mesmo é o narrador, que vai se adaptando a cada uma das histórias e é um romântico inveterado e inocente. Um livro curto e rápido, recomendo para quem não tem um nível avançado do idioma.
Oscar Esquivias – Inquietud en el Paraíso
De todos os que aparecem nesta lista, este é provavelmente o que eu devorei mais rápido. É o primeiro capítulo de uma trilogia e é uma obra simplesmente deliciosa, embora bastante absurda – ou talvez exatamente por isso. A história acontece em 1936, quando, em uma palestra, um palestrante sugere que Dante realmente visitou o Purgatório para escrever a Divina Comédia e propõe que os presentes façam uma viagem ao “além” para conhecer o que há. Muito recomendado, especialmente a parte 1!
Laura Freixas – Diario
A catalã Laura Freixas é polifacética: escreve livros, artigos em revistas, tradutora dos diários de Virgínia Woolf, além de abordar bastante o tema da maternidade – que era o assunto do meu doutorado, e acho que foi através daí que cheguei ao trabalho dela. Recentemente, ela publicou seus diários em alguns tomos e no meu aniversário do ano passado ganhei dois deles. Não é um livro que definiria como imperdível, mas achei interessante como um retrato da sociedade naquele momento e porque, casualmente, ela tinha uma idade similar à minha na época do diário que li. Me serviu de inspiração para voltar a escrever.
Fernando Aramburu – Patria
Grande sucesso de crítica e público, essa obra de Aramburu se tornará em breve um série audiovisual. É um livro que não agrada a todos e trouxe certa polêmica por abordar um assunto delicado na Espanha: os ataques do grupo separatista basco ETA. A obra, no entanto, é uma ficção e, como me estrangeira, me ajudou a entender algumas coisas que sempre me perguntei. O grande mérito do livro, no entanto, é a humanidade dos personagens das duas famílias que retrata e que eram amigos antes de tudo isso acontecer.
Ana Penyas – Estamos todas bien
Uma HQ para ler em uma tarde, mas cheia de sensibilidade tanto nas falas dos personagens quanto nos desenhos. A obra é uma homenagem da escritora às suas avós e retrata como ser um idoso. Um livro delicado, que emociona muito.
Aqui ficam as dicas das minhas amigas:
Dica da Camila: Carlos Ruiz Zafón – El laberinto de los espíritus
É o livro “final” da saga do Daniel Sempere e do Fermín, os personagens principais dos livros. Os outros livros dessa mesma saga são: La sombra del viento, El prisionero del cielo e El juego del Ángel. Esses livros são interessantes porque podem ser lidos em qualquer ordem, porém tem a sua cronologia para quem quiser seguir.
Antes de viver na Espanha, ou mesmo pensar em viver aqui, eu li os livros em português, porém esse último eu já li em espanhol, quando estava estudando a língua. Tem uma linguagem muito fácil e a narrativa me deixava curiosa. Acho que eu terminei de ler em poucos dias, porque são livros dignos de ser devorados!
A grande maioria da história da saga se passa em Barcelona, em anos pós-guerra civil, e durante os anos da ditadura na Espanha. É um livro com elementos muito visuais, com doses de suspense, terror, e algum alívio cômico quando necessário. Mas no geral, a história está muito bem amarrada e encerra o ciclo da saga de maneira brilhante.
Carlos Ruiz Zafón me fez ter curiosidade pela história de Espanha e passear por Barcelona anos antes de poder conhecê-la pessoalmente!
Dica da Sandra: Eduardo Punset – El Viaje al Poder de la Mente/Cara a cara con la vida, la mente y el universo
Eduardo Punset foi um conhecido divulgador e comunicador científico espanhol que se debruçou na questão de entender o funcionamento do cérebro humano de maneira a decifrar como o pensamento se desencadeia, se transforma e se desenvolve.
Como a ciência atual responde a “quais são as leis da evolução?” e “qual a origem do universo?” e outras são os temas de “Cara a cara con la vida, la mente y el universo”. “El viaje al poder de la mente” é o último livro da trilogia sobre a felicidade, o amor e o poder da mente.
O grande barato desses livros é essa tentativa de busca pelo universal ao humano. Eu, como antropóloga, advogo pelo que nos une, que é nossa tentativa de nos entender através das diferenças e com Punset o diálogo fica mais interessante.
Dica de livro antigo
Se você quer ler um livro clássico e que tem tudo a ver com Madrid, recomendo “Luces de Bohemia”, de Valle-Inclán. A obra narra uma noite da vida do escritor Max Estrella pelas ruas de Madrid e, passeando por Madrid, você pode ver placas que indicam lugares por onde Max Estrella passou naquela noite.
Próxima leituras
Já estão na listinha de próximas leituras essas duas obras: “El Vientre Vacío”, da jornalista Noemí López Trujillo, sobre os desafios de ser mãe no mundo atual em um país que acaba que sair de uma crise (e já está entrando em outra), e “Lectura Fácil, da autora Cristina Morales, sobre quatro mulheres com diversidade funcional que moram em um apartamento tutelado em Barcelona.
E vocês, o que andam lendo? O que recomendam?
Já anotei todas as suas sugestões. Quando morei em Madrid entre 2001 e 2005, li muito Miguel Delibes (Los Santos Inocentes) e José Luis Sanpedro (La sonrisa etrusca). Me apaixonei pela literatura de Delibes.
Oi, Maria Cristina. Muito obrigada pelas dicas e pelo comentário!