Ciências sem Fronteiras na Espanha
Andando pelas ruas em Madrid, vira e mexe ouço brasileiros falando português com os sotaques mais variados possíveis. Outro dia, pediram para eu tirar foto e eu respondi em português, aí já rolou um bate-papo. Era um grupo de brasileiros que estava morando na Itália como participantes do Programa Ciências Sem Fronteiras e que aproveitaram para visitar Madrid.
Mas por aqui também há muito brasileiro estudando por meio do mesmo programa. O Governo Federal pretende conceder, até 2017, 101.000 bolsas de estudos, a grande maioria delas (64 mil) para a graduação, que consiste basicamente em fazer um ano da faculdade em uma universidade estrangeira – ou um período um pouco mais longo se incluir aulas do idioma do país de destino. As principais áreas são engenharia, computação e TI, farmácia, energias renováveis, etc. Ou seja, o pessoal da área de humanas, como eu, se deu mal, rs!! A lista completa está aqui.
Na Espanha, há dezenas de universidades que estão participando do CsF. A lista das universidades em Madrid que fazem parte do programa inclui a Universidad Complutense de Madrid, Universidad Autónoma de Madrid, Universidad Carlos III, Politécnica, CEU San Pablo e as que estão em cidades vizinhas Rey Juan Carlos e Alcalá de Henares.
Ok, você quer vir participar e quer saber como???
Primeiro passo: veja aqui se você se encaixa em um dos perfis. Como eu falei antes, a maioria das vagas é para quem está na graduação.
Conversei com dois participantes do programa: a Bia, amiga querida, que estudou na Universidad de Barcelona em 2012/2013, e o João Carlos, que está quase voltando pro Brasil depois de um ano na Politécnica. E eles me falaram como foram suas experiências do começo ao fim – gracias, chicos!
Vamos por temas:
– Na hora de se inscrever é possível escolher o país, a cidade e a universidade?
Bia: No momento que são lançados os editais, eles já vêm separados pelo país. No edital que eu participei, a única coisa definida era justamente o país; a gente preenchia o formulário pelo site universidades.es e lá mesmo nós fazíamos uma lista, em ordem decrescente de preferência, das universidades que ofereciam o curso que nos interessava – no meu caso eram 5. Fui selecionada para a Universidad de Barcelona, minha primeira opção, mas muitas pessoas foram pras suas segundas ou terceiras opções, os critérios para essa seleção nunca ficaram muito claros pra nós, alunos! Nos editais mais atuais, o processo mudou um pouquinho. Vc só pode selecionar a universidade depois que sua inscrição é homologada pelo CNPq (quem oferece a bolsa). Na minha época, acho que por ter menos gente inscrita, você fazia meio que tudo de uma vez.
João: Me inscrevi no Csf acho que no mês de Janeiro de 2013. Escolhi somente o país: Espanha, porque não tinha como escolher a cidade.. e menos ainda poderia escolher a universidade.
Nota da autora do blog – Ponto positivo: se você quer vir para Espanha e não tem muita exigência de cidade, a coisa começa bem!
É exigido algum diploma de español?
Bia: No meu edital, não pediram nenhuma prova de proficiência. Eu não concordava com isso – e claro que deu problema. Muitas pessoas se inscreveram para a Espanha não porque queriam ir pra lá, mas porque não tinham os certificados de inglês que exigiam os países de língua inglesa e porque achavam o processo do Edital de Portugal muito concorrido. Aí escolheram Espanha sem nem saber responder um “Hola, que tal”. Eu já tinha feito três anos de aula de espanhol, mas fazia muito tempo. Consegui me adaptar bem à língua porque lembrei de muito do que havia aprendido e tive facilidade. Agora, muitos alunos nunca tinham entrado em contato com a língua e tiveram muita dificuldade para acompanhar o conteúdo dos seus cursos. Muitos tiveram que utilizar a bolsa para pagar um curso de espanhol.
Nota da autora do blog – Atualmente, a coisa mudou. No último edital publicado para a graduação na Espanha, de dezembro de 2013, consta que os brasileiros devem apresentar o teste de proficiência DELE nível B1. Quem tiver o nível A2 e atender os outros requisitos deve fazer um curso virtual do Instituto Cervantes de 40 horas, nível B1.
E a burocracia?
João: O tempo desde o resultado até o embarque acho que foi de uns 3 ou 4 meses. O mais burocrático foi arrumar os documentos (passaporte, visto, e doc. na universidade no Brasil e contato com a universidade espanhola).
Você considera que o intercâmbio valeu a pena desde o ponto de vista acadêmico? Por quê?
Bia: para responder isso depende muito do que as pessoas têm como foco na vida acadêmica delas. Se a pessoa quer se formar logo, quer apenas um diploma e falar que tem curso superior, não vale a pena. Falo isso porque muitas universidades do Brasil ainda não estavam preparadas pra uma formação internacionalizada dos seus alunos. A USP mesmo (onde a Bia estuda) possui vários programas de intercâmbio – mas do meu curso, raramente ia alguém. Foi um ano perdido para as disciplinas obrigatórias porque consegui equivalência em apenas uma, de dois créditos. Depois de muita briga, consegui que validassem 20 créditos em disciplinas optativas – isso porque lá, ao todo, cursei 34,5 créditos em disciplinas. Acredito que isso agora já esteja mais “regulamentado” pelas universidades, aceitando mais algumas equivalências. Mas como meu foco nunca foi apenas me formar, pra mim foi a melhor coisa que aconteceu academicamente falando. Se olharmos para o Brasil, é bem claro que cada curso terá um “direcionamento” diferente em cada universidade. Internacionalmente, isso é ainda mais evidente. Na universidade de Barcelona tive a oportunidade de entrar em contato com disciplinas que eu nunca sonharia nem em ouvir falar sobre o conteúdo no meu curso daqui. Farmácia já é um curso muito abrangente, ainda mais com o currículo generalista que temos agora. Com o curso de lá, aprendi muito sobre coisas que nem mencionam na universidade daqui. Isso contribuiu muito para minha vida profissional especialmente, porque escolhi uma área que pude conhecer apenas durante o tempo que passei estudando fora. Perdi um ano de graduação? Se for olhar apenas a matemática dos anos de estudo, sim, perdi. Agora ganhei um ano de experiências acadêmicas e de vida que são mais valiosos que qualquer semestre passado estudando no Brasil.
João: Do ponto de vista acadêmico valeu porque aqui eu vi muitas coisas diferentes do que eu já conhecia, e ainda de formas diferentes. A universidade, as matérias e a faculdade não me surpreenderam, achei o nível parecido e inclusive não gostei da metodologia e da forma com que levam o curso aqui. Acho que em Brasília é melhor.
E a experiência como um todo?
João: a experiência em outra universidade (ainda mais no exterior) é enriquecedora. Valeu muito a pena o intercâmbio como um todo, apesar das dificuldades encontradas. Recomendo para qualquer pessoa, é incrível em todos os sentidos. Para o João, que veio a Madrid, eu perguntei o que ele achou da cidade e a verdade é que curti muito a perspectiva que ele deu, bem diferente da minha: “Os pontos positivos do intercâmbio em Madrid é que você está na capital, onde todas as coisas acontecem (isto é, cidade cosmopolita, sede governamental – acompanha mais o que rola no país – , movimentos sociais, manifestações, centro cultural, oportunidades, eventos, acesso etc).Pontos negativos: um pouco relativo, pois depende de cada um. Eu, particulamente, não gosto dos grandes centros e em Madrid não gostei da recepção das pessoas e como elas levam a vida.
– Depois de tudo isso, você continua animado para vir para cá com o CsF? Os prazos ainda não estão abertos, mas no site oficial você tem acesso a todas as informações, inclusive o valor das bolsas de estudos. Boa sorte!! 🙂
– A Espanha é só uma de várias opções. Pesquise bem e ouça outras experiências antes de se inscrever para poder tomar a melhor decisão.
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