Identidade brasileira
Faz uns dois meses que peguei o ônibus com uma senhora responsável pela limpeza do prédio em que trabalho. Normalmente, trocamos apenas “bom dia/boa tarde”, mas nesse dia nós batemos um papo no ônibus depois que corremos juntas para alcançá-lo.
E foi aquela troca de perguntas básica: “o que faz nessa empresa? Há quanto tempo trabalha? Mora longe?”. E eu perguntei de onde ela era. Talvez essa pergunta possa soar estranha no Brasil, mas aqui, com tantos estrangeiros, é uma pergunta bem comum. Ela me disse que era do Equador, a maior população de imigrantes aqui na Espanha. E foi então que ela perguntou: “e você, é daqui mesmo?”. Disse que não, que era brasileira e morava aqui há dois anos e meio, etc. Ela respondeu que eu não tinha sotaque de brasileira e parecia espanhola.
Confesso que, logo que cheguei aqui, esse comentário sobre “não ter sotaque” teria me deixado extramamente feliz. Quando cheguei, o que eu mais queria era me sentir integrada, ter amigos espanhóis e tudo isso. Mas agora, depois desse tempo aqui, esse comentário não me deixou muito feliz e demorou um pouco para eu entender o porquê.
Agora eu sei. Porque, a cada dia que passa, eu ouço menos português nas ruas, eu leio menos livros e revistas em português, eu ouço menos música brasileira, eu como muito menos a comida brasileira, eu sinto a realidade do Brasil cada vez mais distante e me sinto cada vez mais próxima da rotina espanhola. Isso não significa que eu não goste do Brasil ou prefira a Espanha, mas é que chega um momento em que você tem que se desconectar um pouco de lá para viver a vida aqui, ou então você passa o tempo todo relembrando (e grande parte dele sofrendo).
Claro que sempre vou ser brasileira, mas vivendo com um namorado espanhol e sua família e nossos amigos espanhóis (e de outros lugares também), eu me acostumei a uma série de coisas que, quando morava no Brasil, acharia muito estranhas. E parece que a saudade das coisas do Brasil já não é tão forte, o que é bom, pois significa que me adaptei. Mas também dá um aperto no coração porque parece que tenho que deixar uma parte de mim para trás.
Talvez essa seja a realidade de grande parte dos imigrantes. Nesse ponto, uma das grandes vantangens é morar em um país latino, como o nosso, em que o contato e o afeto são importantes e a língua é parecida.
Mas tem dias… ah, tem dias que bate a vontade daquele arroz com feijão, das cervejas com os amigos no buteco, das festas de aniversário de família. Tem dias que eu até sinto saudade do trânsito da Vila Olímpia!
Te entendo, Lari. Ouvi uma vez de um brasileiro que estava há 20 anos nos EUA que depois q vc sai da sua cidadezinha, nós nunca conseguiremos ser 100% feliz em qualquer lugar. Mas, não se preocupa, o Brasil tá pra sempre no sangue e no coração. Aproveita aí. Beijos.
Karine, pois é! O coração tá sempre meio dividido… mas isso nem sempre é ruim! É bom ter duas perspectivas das coisas 🙂 Beijos
NA verdade a identidade fica “globalizada” No meu caso, nasci na Venezuela, sou filha e neta de espanhóis, morei muitos anos da minha infância nos Estados UNidos e casei com Brasileiro Paulista. Estamos de mudança para Barcelona ( por sinal podiam fazer um ´post sobre BCN) Amo seu blog e sempre leio teus post, morro de rir, e aprendo muitas coisas.
Eu sempre conto a todos que depois de 22 anos de Brasil ( metade da minha vida) agora com 45 anos esposo e 3 filhos brasileiros ( com tripla cidadania) vou ser estrangeira de novo… só que na verdade sempre fuí estrangeira aqui no Brasil. Não tenho sotaque, mas não sou brasileira, tenho um pedaço do meu coração no Brasil. Quando viajo com meu esposo e filhos para Venezuela ou bem seja encontrar com a minha família, sou apresentada para outros como “esta é a minha filha brasileira, a minha irmã brasileira” kkkkk. Quando chego aqui no Brasil, meus colegas de trabalho me chaman de “gringa”.
Portanto que num mundo globalizado a identidade é aquela que vc escolhe e acaba sendo sempre um mozaico. Identidade se carrega na alma e não no passaporte…Somos ciudadanos del MUNDOOOOOO
Oi, Jeannette, é isso mesmo! Pode deixar que em breve vao rolar posts sobre Barcelona.Espero que vocês sejam muito felizes aqui também. Um abraço!
Lari,
Somos brasileiras e estamos nos “espanholizando”.
Vem aqui em casa comer um feijão preto temperado com pimentón de la vera e conversamos mais sobre isso!!! :-):-):-)
Tamojunto!!!
Beijos
Sandra
Opa, não precisa convidar duas vezes! Muchas gracias, wapa! 🙂
Ou posso te levar um “taper” de feijão con pimenton! ehehe
Em que o boy espanhol já se abrasileirou?? O Paco adora falar tudo com “inho” e nem preciso dizer que o feijão é ele que faz!!
Misturando as duas culturas pode sair um trem bem bolado, 😉
Faço minha estas sus palavras, também há dois anos e meio em La Coruña e com marido Español, as vezes me sinto igual vc e qto ao feijao com arroz faço veeez outra, mas só come os dois misturas eu, marido acha meio estranho e come o feijao separindo com pao hahahahahahaha……grande beijo…..Op·s! tô indo próxima semana para Brasil, se estivessemos na mesma cidade, com certeza traria algo dali para vc matar a saudades rsrsrsrsrs
Jaira, o meu namorado também acha estranhíssima a combinação de arroz e feijão! Aproveite muito no Brasil e obrigada pelo carinho! 😉